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Monthly Archives: June 2011

“Às palavras não tem significado próprio”, eles dizem. Pois sim, elas não tem. Elas tem todo um significado impróprio. Sua presença corta, sua ausência destrói. Conjunto de símbolos são. Dentro de cada um elas amadurecem próprios sentidos impróprios; dentro delas mesmas amadurecem o desconhecido e nos fazem reféns.

Dizes-me: “estou sem palavras” como quem quer dizer estar cheio de impropriedades, ausente de significados. E o pensamento? Onde paira?

Eu sinto seus sons e a falta deles, eu sinto o meu silêncio e nada além dele…

Em que momentos estivemos realmente satisfeitos? Em que momento decidimos ser realmente insatisfeitos perante a força de todos estes momentos, de toda esta provisoriedade, impermanência? É tempo de menos para sermos menos, para nos permitirmos tantos menos… E menos, cada vez menos.

A criatividade é um tipo de monstro que habita em nós ou um outro alguém que às vezes precisa sair, rodear algum lugar, com ou sem a nossa autorização.

Eu sinto que já há bastante tempo tenho aprisionado este meu outro alguém dentro de mim. Não há tempo, não há mais tempo, nunca há tempo para organizar palavras, para organizar sons, para profanar tintas, papel e tela, para congelar imagens de lugar qualquer – qualquer lugar, para realmente me ver representada por algo que veio de mim.

Cadê? Onde estou eu nas coisas que faço? O que ando fazendo de tanto e de tudo, sendo que só do quase nada me lembro? Quanto tempo ainda tenho? Na minha tentativa de rapidez apenas tenho acesso à mais e mais impotência. São vontades, são sonhos. Obrigações?

Talvez seja apenas uma saudade da infância, aquele saudosismo do tempo em que não havia tempo; daquele tempo em que havia apenas nós mesmos em confusão com o mundo, em confusão com toda uma ideia do eterno, sendo que até este eterno era apenas uma ideia construída por nós mesmos. Em algum momento, em algum lugar da nossa mais tenra infância, o mundo foi apenas o que fomos. Egoísmo ou necessidade? Como saber lidar com este “tudo ao mesmo tempo e agora”? Com toda estas imposições e sobreposições que eu, tu ele, nós, todos colocam sobre nós e sobre todos?

Sinto que existe uma parcela grande de descontrole que eu não sei de onde vem e nem para onde vai. Talvez seja apenas aquela famosa parte desconhecida – e então nem tão famosa assim – de nós mesmos. Mas ainda há uma chance de ser a tal criatividade pedindo a chance de ocupar um pouco de espaço, de espaço externo.  

(Ou sacrificamos aquilo que muito queremos ou sacrificamos aquilo que, por algum motivo imposto por algo ou alguém, devemos. O dever e o querer; eterna guerra, eterno embate, do qual o vitorioso nunca é conhecido, e o perdedor somos sempre nós mesmos.).

Aquele momento em que você se percebe distante… Em que você percebe o distante… Ainda que não saiba delimitar os referenciais…

Textos curtos, como sempre, pois não há tempo.

(…)

“I still remember the world
From the eyes of a child
Slowly those feelings
Were clouded by what I know now

Where has my heart gone?
An uneven trade for the real world
Oh I, I want to go back to
Believing in everything and knowing nothing at all

I still remember the sun
Always warm on my back
Somehow, it seems colder now

Where has my heart gone?
Trapped in the eyes of a stranger
Oh I, I want to go back to
Believing in everything

As the years pass by
Before my face,
As wars rage before me,
Finding myself
In these last days of existence,
This parasite inside me,
I forced it out.
In the darkness of the storm
Lies an evil,
But it’s me.

 

 

I still remember…”

 

 

 

Em meio às coisas que mudam, ao destino que manda, a eu que cada vez mais desmando, desconfiguro o caminho, um caminho, um provável. O caminho é provável. Não me levei, mas é sempre alguém que me traz, que me trouxe. Foi sempre alguém que me levou. Eu caminho o destino e todos os entreatos. Qual parte de mim é minha? Qual fui eu que construí? T.F.C foi o nome que deu-me minha mãe, sozinha. E ela sabia? Sabia o que seria? Sabia o que seria de mim? Sabia o que saía de mim? Sabia, Sabá?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem: T. F. C. distraída, esperando os resultados de Sociologia II numa sala qualquer do IC IV, munida de aquarelas. E eis que aquela hora, outrora e quase ainda à minha frente, já se passou…

“Só o que preciso fazer é trabalhar, cavar as minas profundas da experiência e da imaginação, deixar que as palavras surjam e digam tudo…” S. Plath.

(Os diários de Sylvia Plath… Leitura abandonada. O seu início coincidiu com o início de uma época de várias crises).

Talvez seja isto. Talvez eu só precise trabalhar… Trabalhar as palavras. Talvez o meu problema seja uma dívida pessoal, de mim para mim mesma, de palavras, de expressões. Há tempos não tenho ânimo de expressão. Há tempos congelei as imagens da câmera fotográfica, há tempos não produzo sons, há tempos guardei os cadernos e os lápis e hoje mal reconheço as telas e as tintas. Há tempos, ainda, me reneguei à ideia de que alguns sofrimentos são apenas temporários.

Os mais internos em meu externo.  Eles e eu, eu e eles. Em quase todos os pontos, divergentes. Será possível? Será possível tanta convivência produzir tanta divergência? Será possível que as horas compartilhadas, a casa compartilhada, não são capazes de produzir um mínimo de consenso, de pontos comuns?

Aonde vamos chegar?

“I wish that I could speak. Is there fantasy in refuge? God in politicians? Should I turn on my religion? …”