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Monthly Archives: July 2015

De quando surgem as explosões, daquelas que se perpetuam sem causas, sem um encontro de ações.

Ou, ainda, se me permite, daquilo que compreendo por ansiedade.

Finalmente sozinha, eu me concedo a liberdade das explosões, ou, admitindo a controversa possibilidade de ser a liberdade concedida por outrem, agradeço por alguma fração de segundo a alguma fração de não-humano, ou mesmo a algum rasto daqueles que me deixaram – os mortos que não estão mais em suas cadeiras. E, expandindo a brevidade de agora, fervilho: pode a liberdade minha ser ela mesma se é outro o que me entrega? Sendo ou não dada, é um balão de ar que sobe, é um brinquedo largado na sala, é ela, de menina a cobra criada.

Volto ao espelho, penso, “hoje renderia uma boa foto, ou quase” – justo para mim, que normalmente penso por imagens – e vejo o cabelo que nunca teve seu jeito, titubeio, me dou conta do borrão de um vermelho e negro, dou voltas loucas pela sala que não me pertence, pairo em um copo, vejo borbulhas, imagino – “e se caísse?”; ele, digo, e não eu. Ainda. E se sou eu a quebrar se ele cair?

Eu, por diversas vezes, cheguei a pensar em dizer à Maria Claudia que gostaria muito de controlar qualquer coisa que eu fosse capaz de elaborar, traduzir e compreender nos conformes daquela sua ciência ou de qualquer outra coisa, das mais exatas às mais arbitrárias ou manipuláveis, desde que, ainda leve ou brevemente, me respondesse qualquer coisa que fosse.

No começo de tudo, há alguma meia dúzia de anos atrás, tratei de rasgar a vida naqueles papeis, nos versos, na letra indisciplinada, nos traços da crise que me retirada o ar e aumentava a libido – todos e tudo absolutamente sobrevividos. Aqueles papéis de algum tempo atrás refletiam eu e ele de alguma forma, ele que havia me ensinado qualquer coisa a mais sobre a já velhas e atuais escrita e necessidade. De fato, ele manipulava tudo aquilo magistralmente, e se apresentava como breve persona. Nós éramos aquilo – aquela complacência com a infelicidade alheia, ou do mundo. Nós éramos algo de unidos na tristeza e na tristeza – cujo fim era a nossa felicidade.

E quanto à Maria Claudia, ela entendia, ou talvez fosse eu, pobre de coitada, que entendia que ela provavelmente entendesse. Se não eu, alguém haveria de entender, ainda que me presenteasse com silêncio. De fato, falar não era a sua verdadeira função. Ao menos não ali, no sofá do meu acolá. E onde seria?

Imediatamente voltava ao copo, que era início: Maria Claudia balbuciou “vinho” em alguma aleatória conversa alguma vez. Do que ela gostava? Era então que eu deveria provavelmente me pausar: eu era a única a ser inexoravelmente comprometida com as minhas próprias circunstâncias. A ela sobrava tentar ajudar.

veja este absoluto de absurdos

de quem cava

e se vê tão sem fundo

que não tem chão.

me deixa estar, só com o vácuo por entre essas asas

já que a terra por entre os pés pertence a alguns, alguns poucos

nunca eu

nunca todos.