dizia ela querer mudar destinos de paletas de cores. desafiava as vontades de um sempre branco e preto, desses que marcam o fundo de um armário esquecido em uma terra qualquer escondida. a vontade de pretoembranquecer era a de se render a misturas que não eram outra coisa senão pósnúncio de ausência. preenchê-las era feito caminhar rumo a um meio amarelo de fim de tarde, desses convidados que gostam de ficar pouco e serem bem tratados. ele era um menino amolecado correndo dourado dos movimentos do relógio dos fins de fins, ou dos inícios do começo do que quer que fosse que de novo se quisesse fazer.
dizia ela querer mudar destinos de um empório de dores. com uma mão, rasgava os restos de um susto da década de 90, que lá naqueles não tão idos tempos anunciava pelas ruas o que precisava ser urgentemente anunciado, enquanto ela trajava branco refazendo o caminho de casa. com a outra mão, manejava os entulhos das ameaças das décadas de 2000, que a congelaram, quase que para sempre, ou de pé num ponto de ônibus ou deitada em lugares proibidos, enquanto trajava verde.
dizia ela que tanto ficou quanto já passou, pois ficar é sobrar e passar é saber, conscientemente, que sobrou e sobrará. ficou de leve, como o descanso de quem se ajeita numa das redes de dormir armadas num barco que acabou de atracar num cais de rio. passou misterioso, como o movimento pós-cais de cores a dentro por sete dias e sete noites. cores que jamais se descreverão pretoembranquecidas…
(arte: josh jefferson)