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Monthly Archives: March 2012

Em muitos momentos sentimos o circular, aquilo que vai sem deixar dor por que também significa volta; aquilo que tende a ser incompleto, mas igual, mas novamente, mais de novo.

Mas mesmo todo o circular guarda um pouco de corte, guarda um pouco de fim – sim, mas não fim em si mesmo, pois não há pontas. Guarda apenas o fim em algo outro que se perpetua, que se eternaliza ao se externalizar – em círculos.
Então aqui se vai, aqui deixo ir, mas não por que simplesmente assumi o fim que queria; assumi o fim que deveria, que devo. Assumi o fim afim de prosseguir, já que outra opção eu não tinha.
Assumi este fim e ele veio, mas de qualquer forma algum fim a mim chegaria – pois este que guarda o circular, este sim, é um fim em si mesmo. Assumo algum controle dos meus fins por que sei que algum virá, pois o fim é justamente o aviso de que algo continua.
Acaba, termina, se rompe, quase que de acordo com um acordo subjetivo, com uma escolha, com um pacto consigo mesmo. Deixei ir por que sei que, embora vá, o ir é apenas parte, é apenas uma das eternas curvas deste circular, desde conjunto de machucados vivos, marcas latentes, que permanecem e influenciam novos começos que, um dia, serão mais finais, mais finais que são partes, mais finais que estão em curvas…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(Millenium Mambo, 2001, Hou Hsiao-hsien).

ps: Filme de fotografia do caralho merece mais de uma fotografia aqui.

Eu te disse, só disse

“podes ir por alí”

e foi e foram, todos quantos são foram

todos quantos eu disse, nós dissemos ou alguém indicou

 

Queimou-me e mal vi, este tal sol dourado

Atingiu-me, ele

Ele atingiu a mim

e o que de mais, de qualquer

havia de por alí ser achado

 

Mas então finalmente movi os pés

Movi e vi – retorno,

inacabada a via-vida não movi, nem vi

Ah, e quem me disse, quem só disse

Para onde eu poderia ir?

Querer saber o que fazer. Querer não fazer nada, nada. Nada eu deveria, por dever buscar o avesso e é a tentativa de detalhes o que me mata. Querer saber o que fazer. Querer saber como não deixar corroer. Mas eis que se aproxima a despedida, a despedida. E então devo ensaiar algo que fique, algo que fique e que fale, que não seja tão silencioso, tão silenciador, quanto esta perseguição pelos detalhes. E é a tentativa de detalhes o que me mata. Silêncio…

 

Eles fazem seus sons logo às 8h da manhã, sons que crescem aos poucos  e com calma pelos cômodos da casa. Ainda enquanto seus sons se preparam em orquestra, surge a voz por cima dos ensaios e diz, já sob presa, que “é hora de ir”.

E sendo a última a me mover, sou a primeira a terminar.

Sem entender, logo sinto. Sinto a alternativa ao seguir, mas deixo novamente se fazer sozinho tudo o que se faz em dias como estes.

É neste meu partir que questiono: “o que me move?”. Questiono, mas movo.  Sem ter real percepção, ou ao menos admitindo não perceber qualquer coisa, sobre este mover e sobre os detalhes do caminho, mas me movo, chego.

Já nos poucos minutos portas à dentro, caem as palavras. “Submissão” é uma delas, sendo na verdade várias, várias. Nenhum grupo de sinônimos é suficiente quando a palavra que não participa do discurso aberto é o “convencimento”.

Teto, listras. Um exercício de contas sem usar os dedos. Uso cada parte de mim em cada canto daquele salão e diferença não mais faz o meu lugar.

E sem saber o que fazer com tantas frases, elas somem na minha distração. Quarenta minutos nunca são inteiros, ainda quando uma hora inteira são.

“Nada haver com maneiras! Tem, na verdade, haver com hábitos”.

“Não é fraqueza a humildade, a submissão”.

E lá novamente me percebo, novamente, após os minutos, fossem quantos fossem, de distração.

“Estamos aqui não apenas para nos mover, mas para mover outros, outros também”.

Assim como vamos, outros tantos devem ir? Mover, mover-se, fazer mover.

Quando tiro os nomes, as divindades, autores, quando retiro o que se põe à frente, quando se deixa revelar o que estrutura, quando acesso aquilo que é sem aqueles que fazem ser, percebo que este lugar de domingo é o lugar das segundas e terças. Certezas de todos estes dias perseguem umas às outras, ainda que nada sejam complementares. Se daqui deste domingo eles me dizem, de lá dos outros dias também o fazem. Se aqui me intimidam por espaço, lá me invadem, me cercam.

Jogue todos os outros fora, se renda. Multiplicidade é apenas incerteza e não há em ninguém tanto espaço. Diga de vez, diga agora, por onde; é uma questão de mera escolha.

Dizem que o suicídio é fato, dizem que as estruturas estruturam. Dizem que se impõe acima de tudo a economia, dizem que lá existem apenas ruas de outro. Dizem que traição é apedrejamento, dizem que a velocidade é relação distância e tempo. Há quem diga que tudo são meras categorias, abstrações, há quem diga que há concretude, salvação, esculhambação. Há o que há para toda e qualquer ocasião. E há, ainda, apenas quem diga “ou não…”.

(Rosetta, 1999, Jean-Pierre Dardenne and Luc Dardenne).