“Tenho sido sempre um sonhador ironico, infiel ás promessas interiores. Gosei sempre, como outro e extrangeiro, as derrotas dos meus devaneios, assistente casual ao que pensei ser.
Se não fosse o sonhar sempre, o viver sempre num perpetuo alheamento, poderia, de bom grado, chamar-me um realista, isto é, um indivíduo para quem o mundo exterior é uma nação independente. Mas prefiro não me dar nome, ser o que sou com uma breve obscuridade e ter commigo a malícia de não saber prever.
Tenho uma espécie de dever de sonhar sempre, pois, não sendo mais, nem querendo ser mais um espectador de mim mesmo, tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
(…) Depois veio a vida. Nessa noite levaram-me a cear ao Leão. (…) E tudo se mixtura – infancia vivida a distancia, comida saborosa de noite, scenario lunar, Verlaine futuro e eu presente – numa diagonal confusa, num espaço falso entre o que fui e o que sou.” (forma de escrita, incluindo acentuação, original de Portugal na década de 30).
– Livro do Desassossego. Pessoa sempre acompanha…