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Monthly Archives: October 2010

Nacht: In einem hochgewölbten, engen gotischen Zimmer Faust, unruhig auf seinem Sessel am Pulte:

FAUST:

Habe nun, ach! Philosophie,
Juristerei und Medizin,
Und leider auch Theologie
Durchaus studiert, mit heißem Bemühn.
Da steh ich nun, ich armer Tor!
Und bin so klug als wie zuvor;
Heiße Magister, heiße Doktor gar
Und ziehe schon an die zehen Jahr
Herauf, herab und quer und krumm
Meine Schüler an der Nase herum-
Und sehe, daß wir nichts wissen können!
Das will mir schier das Herz verbrennen.
Zwar bin ich gescheiter als all die Laffen,
Doktoren, Magister, Schreiber und Pfaffen;
Mich plagen keine Skrupel noch Zweifel,
Fürchte mich weder vor Hölle noch Teufel-
Dafür ist mir auch alle Freud entrissen,
Bilde mir nicht ein, was Rechts zu wissen,
Bilde mir nicht ein, ich könnte was lehren,
Die Menschen zu bessern und zu bekehren.
Auch hab ich weder Gut noch Geld,
Noch Ehr und Herrlichkeit der Welt;
Es möchte kein Hund so länger leben!
Drum hab ich mich der Magie ergeben,
Ob mir durch Geistes Kraft und Mund
Nicht manch Geheimnis würde kund;
Daß ich nicht mehr mit saurem Schweiß
Zu sagen brauche, was ich nicht weiß;
Daß ich erkenne, was die Welt
Im Innersten zusammenhält,
Schau alle Wirkenskraft und Samen,
Und tu nicht mehr in Worten kramen.
Noite: Num quarto gótico, com abóbadas altas e estreitas, Fausto, agitado, sentado à mesa de estudo:

(obs: Gótico possui aqui conotação negativa, no sentido de atravancado, sufocante, composto de elementos heterogêneos e disparatados. Além disso, no século XVIII, “Gótico” era usado como expressão para algo medieval e obsoleto, não moderno.)

FAUSTO

Ai de mim! da filosofia
Medicina, jurisprudência, e mísero eu! da teologia,

(obs: 1.  Desde a Idade Média e até o início da Era Moderna, as universidades constituíam-se de quatro faculdades, as quais englobavam todas as demais disciplinas: teologia, jurisprudência, medicina e filosofia. Mencionando as quatro faculdades, Fausto dá a entender que já estudara tudo o que era possível a um homem de seu tempo estudar. Embora feitos “com máxima insistência”, todos esses estudos parecem-lhe agora vãos e inócuos; expressando pesar por ter se dedicado também à teologia, antecipa de certo modo a negação de princípios fundamentais da fé cristão e explicita assim os pressupostos de sua futura associação com Mefistófeles.)

O estudo fiz, com máxima insistência.
Pobre simplório, aqui estou
E sábio como dantes sou!
De doutor tenho o nome e mestre em artes,
E levo dez anos por estas partes,
Prá cá e lá, aqui ou acolá
Os meus discípulos pelo nariz.
E vejo-o, não sabemos nada!
Deixa-me a mente amargurada.
Sei ter mais tino que esses maçadores,
Mestres, frades, escribas e doutores;
Com dúvidas e escrúpulos não me alouco,
Não temo o inferno e satanás tampouco
Mas mata-me o prazer no peito;
Não julgo algo saber direito,
Que leve aos homens uma luz que seja
Edificante e benfazeja.
Nem de ouro e bens sou possuidor,
Ou de terreal fama e esplendor;
Um cão assim não viveria!
Por isso entrego-me à magia,
A ver se o espiritual império
Pode entreabrir-me algum mistério,
Que eu já não deva, oco e sonoro,
Ensinar a outrem o que ignoro;
Para que apreenda o que a este mundo
Liga em seu âmago profundo,
Os germes veja e as vivas bases,
E não remexa mais em frases.

Oh, nunca mais argênteo luar,
Me contemplasses o pensar!
Quanta vez, a esta mesa aqui,
Alta noite, esperei por ti!
Então, por sobre o entulho antigo
Surgias, taciturno amigo!
Ah! seu eu pudesse, em flóreo prado,
Vaguear em teu fulgor prateado,
Flutuar com gênios sobre fontes,
Tecer na semiluz dos montes,
Livre de todo saber falho,
Sarar, em banho teu, de orvalho!

(…)

WAGNER

Meu Deus! É longa a arte

E nossa vida é curta.

(obs minha – no original: “Kunst ist Lang, und kurz ist unser Leben”).

Confesso que, em meu douto empenho, em parte

Meu cérebro à ânsia não se furta.

Quão árduo é adquirir-se algum recurso

Que nos conduza até onde a fonte corre!

E, ainda antes de atingir ao meio o percurso,

Decerto um pobre diabo morre.

——

“Ars longa vita brevis” é uma frase de Hipócrates (considerado por muitos uma das figuras mais importantes da história da saúde, frequentemente considerado “pai da medicina”) que, ao ser traduzida, significa algo como “A arte (entendida aqui por “ciência”) é duradoura/extensa, mas a vida é breve”. Esta expressão emprega-se para indicar que qualquer tarefa importante requer muito esforço e dedicação, mas a vida de quem se dispõe a empreendê-la é curta e, portanto, não pode acompanhar a profundidade necessária para concretizá-la por completo. Percebe-se que esta afirmação vai de encontro com a idéia central do lamento inicial de Fausto, acima descrito, na obra de Goethe: a sensação do vazio, da incompletude, permeando o saber, tanto por questões da utilidade prática deste saber quanto por questões deste ser fadado à eterna incompletude, ao eterno refazimento.

A frase completa é: “Vita brevis, ars longa, occasio praeceps, experimentum periculosum, iudicium difficile.” – “A vida é breve, a ciência é extensa, a ocasião é fugaz, a experiência é perigosa, o julgamento é difícil. “

Na tradução latina de Sêneca: (de brevitate vitae) – “Vitam brevem esse, longam artem”.

 – Os trechos de Fausto, assim como os ‘OBSs” explicativos do texto, foram retirados da 1° parte da obra da edição bilingue publicada pela editora 34.

E aqui talvez tenha terminado o mistério do nome do meu blog. Ou talvez apenas iniciado…

São muitas palavras. Mais ainda são as confusões. E, sim, elas inspiram!

Mas por hora penso não precisar mais delas. E por hora me inspiro em outras coisas, novas circunstâncias de mim mesmo. Estes são os dias em que o bem pode ser vivido; estes são os dias em que o bem pode, efetivamente, fazer-me bem.

Vitta Brevis, Thayla… Vitta brevis!

(E então Air, de Bach, faz-se ouvir…)

O dia oferece oportunidade de se exercitar o impraticável da véspera, impraticável este que agora assume alguma possibilidade.

O dia despede o assombro escuro da noite, a sombra que abraça,o tempo com o qual nos presenteia o tempo para que possamos esperar, nos recompor e compor a subseqüência da vida. Cada segundo gasto no dia é um meio segundo gasto de pensamentos e de ansiedade noturnos.

E agora que o tenho o dia, como posso trazer-te a mim?

Como afastar aquilo que afasta, sendo que o que está dentro de mim não conhece distância pelo fato do muito perto te sentir, sem nunca ter te tido?

O âmbito físico é o real âmbito de realização? É nele onde a distância descarrega a maior das angústias? E se o contrário fosse? Ter-te perto, ter teu corpo, sua matéria, a parte visual e tateável do que és, ao meu lado, e não ter a tua mente, as tuas palavras, o teu sentir, amenizaria a minha vontade de ti?

Queimas em mim sem o mínimo toque, sem um único toque. E neste dia, hoje, não pude contornar o impraticável de te sentir fisicamente. Mas queimas, queimastes em mim. E nesta noite a tua ansiedade, a que causas em mim, multiplicou a fração dos meus segundos acordados e desacordados… A noite transitou temporalmente o seu limite; o dia e a noite fundiram-se nos meus pensamentos de ti.

Sangue. Sangre! Eu lhe disse: tenho um suco e ser humano dentro os tubos que se entrelaçam dentro de mim. Eu sou um tumulto de encanações!

Nós estávamos em perfeito sincronismo. Perfeito, perfeito. Perfeita ligação. Cada parte nossa se encontrava na parte do outro. E então a ligação caiu.

Mas o que ainda não foi vivido é justamente o que não pode-se viver. E minha alma acostuma-se a não se acostumar com tamanha ausência; ausência de momentos, ausência de um corpo que me faça valer a existência da alma, um corpo que me liberte – coisa que o meu próprio corpo não pode fazer. A ausência de uma alma que recrie alguma parte de mim mesmo que me era desconhecida, parte que não mais existe, se é que já existiu; que trace o que é invisível ao que tenho por compreensão. Que me faça compreender o que é compreensão.

À margem, ao exterior, quem sou eu se não apenas o de sempre? Ao dentro, ao fundo, quem sou eu senão o que nunca mais serei? Senão tudo menos o que pareço?

O que traz calor senão o corpo, se não a realidade que traz o outro, se não tudo o que pertence à humanidade de quem, humanidade me trazendo, imaginário não é?

Poucas são as palavras que me reconstruíram, ao doce sabor de uma melodia quase esquecida que torna o som, ainda que pouco audível, mais alto do que o meu pensar. E assim me calo, involuntariamente. Forço-me à escravidão dos ouvidos, à escravidão de ti e dos teus poucos gestos, do teu atrevimento de poucos gestos fazer, do teu atrevimento de não silenciar; à escravidão do que me dizes sem pensar.

E ainda que nisto pensasses, ainda que articulasses, ainda que teu intuito fosse apenas o de me enganar, e que a isto dedicasses tudo o que dizes, eu não mais do que agora acreditaria.

E como poderia eu não acreditar? Nada me maltrata e me destrói mais do que as palavras tuas que, remoendo meus destroços, me constróem, reconstróem o que nunca foi; o que não poderia ter sido; o que não é. E se construído ou destruído eu fui, não sei dizer. E ainda que soubesse, minhas palavras se calariam, eis que sempre caladas estarão, curvadas perante o que sinto. E te sinto.

Eterna disputa armo eu entre o que fui e o que sou. E me armo, me preparo para usar as armas contra eu mesmo, armas que uso como quem nunca as usou. E de fato nunca as usei.

Quando chego ao limite, à beirada do meu mundo, penso em não invadir o teu, este que eu trouxe para perto do meu, para fazer fronteira com os meus limites. E meus limites quem, senão nós, poderia estabelecer? Eu longe posso ir, cada vez mais distante de mim, desde que em tua direção. Ah, o frio que faz meu mundo pode continuar sem mim, o meu mundo abandonado pode ser, já que habitado apenas por mim, sozinho, sempre esteve. E só estive. Estive só. E com um simples toque, com a simples desculpa que demos um ao outro para de leve nos sentirmos,  percebo a diferença entre o quente e o frio, percebo que outra sensação além do que me congela existe e que outra coisa além de mim posso sentir, que outro além de mim posso sentir em mim mesmo, desde que este outro sejas tu. E te peço que me permitas sentir-te, pois ainda que não permitas, te sentirei.

Ao acordar forço uma memória qualquer dos sonhos que durante o sono criei, mas a memória é falha e o inconsciente é mais forte; se impõe.

As imagens que um dia habitaram o plano do eu hoje habitam um espaço qualquer no desconhecido, no esquecimento, talvez. Mas isto são apenas especulações e não certezas. Como não me recordo das imagens não posso afirmar nem a sua existência e nem a sua não existência. Especulações, especulações, é o que me sobra!

E pensar que durante o sonho criei mundos, manipulei  pessoas, fiz de mim mesmo um verdadeiro comandante daquilo que me cercou e fiz daquilo que me certou produto das minhas mãos!

Especulações. Especulações!

E também sensações! Não me recordo sempre dos rostos. Não me recordo sempre das imagens – completas ou recortadas. O que me faz distinguir as pessoas é a sensação de participação delas nas minhas imagens.

Carrego em mim uma sensação específica para cada um. Ao acordar, para despertar, as lembranças eu construo a imagem de algumas pessoas e passo estas imagens sobre meus olhos interiores até sentir que elas participaram dos meus movimentos, do meu espetáculo onírico.

Este exercício de lembrança me surpreende quando mostra que a sensação do sonhar pode ser completamente compatível com as imagens do lugar de despertar. Sinto a compatibilidade, a perfeita combinação, e então percebo que de fato este alguém estava lá.