Nós e as nossas pressas.

Algumas coisas eram para ser feitas em pressa, com pressa. Em prazos curtos nos perdíamos, segurávamos uma discussão, engolíamos a sinceridade. Numa mesa de qualquer lugar, em frente ao próprio trabalho, te vi amenizar: uma cerveja, rápida, eficiente.

Com a discrição de sempre, te olhei enquanto segurava o copo tanto quanto o próprio ânimo. Pedi minha fração de líquido para te acompanhar entusiasmada, embora tu, com tua concentração nas pressas a cumprir, não perceberas meu brinde, solitário.

Eu vi, eu li em ti, um basta de tudo aquilo, um respirar pelos planos anteriores que deveriam de fato serem anteriores, mas não eram. Mas li também um desesperado “querer viver”. Por que evitastes tanto, por tantos momentos, este levar de leve, um improviso?

“Por favor, não se atrase!”,  anunciavas em antecedência a vontade de que outros pudessem chegar antes, mas anunciavas sempre com atraso as tuas próprias chegadas. Mas te esperávamos, eu te esperava. Todos tínhamos os nossos defeitos; a quebra de estereótipos que pareciam ser perfeitos provavam isto.

Triste eu ficava ao ver-te construir algo em solidão durante aqueles dias, fosse o que fosse. Eu queria participar e eu queria deixar-te participar também de tudo o que eu movia. Eu ouvia tuas várias hipóteses, lentamente construídas, teus “mas” engraçados que tanto marcaram, assim como teus “nãos” interrogativos, hesitantes. Eu queria participar, mas as oportunidades se findaram e deixaram apenas as dúvidas sobre o que de fato eras. O que demonstravas, afinal? Um ir sem ir, até que se tornou algo que se foi, que não mais recuperarei. Não seria assim? Davas para mim muitas e tantas seguranças, mas não me deixastes saber a verdade de teus propósitos.

Hoje a pressa continua, a pressão sempre se faz, os prazos continuam não tão gentis, mas perdi a possibilidade de companhia que tinha, a tua. Passei a correr comigo mesma, passei a queixar-me apenas para mim. Eu era feliz por poder dizer que tu eras quem me compreendia por mais perto do completo, eu era feliz em dizer obrigada por tudo o que compartilhávamos; assim funcionaram, de fato, nossas ações por alguns meses, com esta base de trocas, opiniões e sugestões… E apenas trabalho.

Image: Elizabethtown, Cameron Crowe, 2005.

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