Rue de Ménilmontant

Você era quem sabia do por que da minha vontade de Rue de Ménilmontant, talvez mesmo nos momentos em que nos encontramos, ainda sem palavras, pelas primeiras vezes, ali na sala onde muitos muito falavam sobre o que pouco nos interessava. E eu não era violinista, mas você adivinhou: no fundo de um armário eu guardo um violino frustrado, de cordas frouxas e sem breu, e também sem vontade, e simbolicamente este foi o início perfeito de todas as conversas. Em algum lugar deveria se colocar toda a luz que eu precisava usar para escrever, mas por motivos que se construíam sem qualquer fonte, ela ainda se desfazia. Tempo depois eu, questionada, lhe confessei: era eu quem construía tudo isto. Eu precisava de tantos quantos fossem os nós, e de qualquer circunstância que permitisse que nada acontecesse.

Eu sempre ouvia sobre a necessidade de conseguir sobreviver, eu sempre recebia conselhos que mais pareciam lamentos frente a tudo o que eu questionava, e as propostas insurgentes de sobrevivência raramente me tocavam.

Para que minhas explicações para quem não poderia sentir? Era a cidade, eram as tantas faltas de encontros, eram os tantos diálogos presos. Era você quem sabia das Rues de uma vida, por isso me convidava sempre para as tantas pré-rues, para tantos ensaios, e eu ria a cada desculpa que você pedia. E no momento em que você disse para pensarmos em como alcançar tantas coisas, eu assumi a simplicidade das minhas vontades, desde que você também se alcançasse. Sabe aquele caminho, que precisávamos refazer? Alguns dos nós que eu precisava pareciam se desfazer.

Revelamos: nosso desequilíbrio era comum. E rimos, mas não, não era vinho, não eram só os copos coloridos. Era tudo o que doía. Era tudo o que ficou nas suas antigas Rues, era tudo o que estava em qualquer Rue que eu queria e desconhecia. Mas alcançaremos…

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